Francisco Joatan Freitas Santos Júnior¹
(Texto 04)
Marx tem uma visão do
trabalho na sociedade capitalista enquanto instância negativa e positiva, por
isso, é capaz de reconhecer a dimensão ampla do trabalho descrevendo-o como
instância criadora, como atividade exclusivamente humana e promotora do humano.
Quando o homem interfere na natureza usando suas energias, transforma-a em
utilidade para si e por ele é transformado, daí a afirmação de Marx (2013, p.
255): “Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao
homem”.
Na concepção marxista se
encontra implicado uma dimensão positiva do trabalho, na qual nenhum ser humano
está isento do trabalho para manutenção da própria vida. “O trabalho é, antes de tudo”, segundo
Marx (2013, p. 255), “um
processo entre o homem e a natureza, processo este em que o homem, por sua
própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza”.
Arrisca-se
dizer que a reflexão marxiana a respeito do trabalho alcança uma análise ética.
Isso se dá por não tirar do trabalho sua centralidade, e, assim, investigar o
trabalho em seu confronto com o existir do homem. É ético porque visualiza uma
posição moral no seio da relação de produção, onde o homem “possuidor de
dinheiro”, no contexto da sociedade de mercado, estabelece uma relação de troca
com seu semelhante em que a sua “capacidade de trabalho, ou força de trabalho”,
mera ferramenta de produção, é exposta à venda “como mercadoria no mercado”
(MARX, 2013, p. 242).
Jacob
Gorender, ao contrário, considera que nos Manuscritos
“Marx ainda não podia explicar a situação de desapossamento da classe operária
por um processo de exploração”, e que, portanto, havia uma “[...] impossibilidade de superar a concepção ética (não
científica) do comunismo” (MARX, 2013, p. 19-20).
Diferentemente de Gorender, pensa-se que em O
Capital, a concepção ética subsiste de forma implícita na denúncia das condições
de vida dos trabalhadores, ao mesmo tempo, em que elabora uma crítica científica
ao trabalho abstrato, enquanto instância de alienação objetiva que expropria as
energias vitais do trabalhador, na perspectiva de sua superação. Nesses termos,
enquanto denúncia fática, não haveria uma posição ética em Marx?
A
visão marxista em torno da categoria trabalho se explica na compreensão de que
na sociedade capitalista o trabalho aparece como instância exploradora e
negadora da existência humana. Cabe explicar, que não se trata de uma oposição
gratuita ao trabalho, mas uma crítica a um modelo específico de trabalho, ou
seja, o trabalho abstrato que soe acontecer no interior das sociedades de
mercado. Assim, como toda sua teoria, não apenas o trabalho está posto enquanto
crítica dessa sociedade, mas a sua própria teoria aprofunda o questionamento
sobre as bases materiais da exploração capitalista com força e consistência
epistêmica.
O trabalho, nesse
contexto, emerge como a mola propulsora do capitalismo. Esse operário, sinônimo
de produção, é paradoxalmente, tratado pelo capitalista apenas como ferramenta,
tendo em conta que seu salário não expressa a riqueza que o mesmo produz, ao
contrário, só serve como base de reprodução da existência, para poder retornar
cotidianamente como operário ao posto de produção. A riqueza por ele gerada
fica acumulada para o proprietário. Esse trabalho abstrato em que o operário
não tem acesso ao seu produto é criticado por Marx (2013). Tendo em vista que o
fenômeno que emerge dessa relação é do produto que se opõe ao seu criador, a
sociedade de mercado subverte os valores de tal modo que a coisa ganha status de persona e a pessoa é reduzida à coisa. O trabalho abstrato,
portanto, coisifica o homem.
Contudo, a invasão
sofrida por essa dimensão do trabalho, pelo trabalho abstrato, que reduz tudo a
produto, inclusive o próprio homem, é que se torna alvo de investigação e
crítica de Marx.
A
teoria de Marx é, sobretudo, uma teoria do engajamento social. Percorre seu
pensamento uma ética. Não uma ética no sentido burguês de ser, em que a
manutenção da situação vigente deva ser preservada, mas uma ética que considera
o ser humano enquanto tal, e não apenas como instrumento em uma linha de
produção.
Palavras-chaves: Trabalho, ética e marxismo.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
MARX, Karl. O capital - crítica da economia política -
Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São
Paulo: Boitempo, 2013.
[1] Texto apresentado na disciplina
de Epistemologia das Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Dr. André Haguette
no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - UECE.
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