Francisco Joatan Freitas Santos Júnior¹
(Texto 03)
Toda pesquisa científica parte do estudo de um
fenômeno pouco conhecido em direção aos aspectos mais desconhecidos de um
fenômeno, por isso, todo começo é um desafio. Nesse raciocínio, Bloch
(2001, p. 67) considera que “a démarche
natural de qualquer pesquisa é ir do mais ou menos mal conhecido ao mais
obscuro”.
De fato, o começo de toda pesquisa social-científica
é um complexo de incertezas. Marx (2013, p. 77), no prefácio à 1ª edição de O
Capital sentencia: “Todo começo é difícil, e isso vale para toda ciência”.
No entanto, pelo conjunto de sua obra, Marx deixou transparecer o “estado de
espírito” de um investigador abnegado e que por toda a sua vida se dedicou a
desvelar os difíceis liames do capitalismo. No mais, em relação a qualquer
experiência de produção textual de Marx, o desafio desse texto é infinitamente
menor.
Mas,
quais os passos fundamentais de uma pesquisa social? Partindo da dúvida sobre
seu próprio pensamento, Descartes (2000, p. 41), mentor da ciência moderna, afirma:
“Penso, logo existo”. Outros partem dessa certeza numa sequência a moda
cartesiana: objeto, problematização, hipótese, metodologia, relevância. Do
ponto de vista ideal, alguns filósofos querem saber a “verdade” sobre si mesmo,
o universo, um objeto qualquer. Talvez, o primeiro momento da ciência seja desafiar
o senso comum e indagar sobre o que está por trás do óbvio.
Noutra
direção, na tentativa de superar o idealismo em ciências sociais, a tradição
marxista parte do pressuposto teórico-metodológico do materialismo histórico, considerando
que a condição técnica para o progresso de qualquer trabalho científico, em
termos dialéticos, é sempre vislumbrar a totalidade do real, numa relação que
parte dos aspectos mais simples aos mais complexos e vice-versa.
O objeto de toda pesquisa social na perspectiva
marxista situa-se historicamente num tempo e espaço determinado,
compreendendo-se que “tempo e espaço são categorias construídas que se desenvolvem em determinado momento e
espaço históricos” (MAIA FILHO et al.,
2014, p. 9). A tradição marxiana, grosso modo, parte do
pressuposto de que as bases econômicas da sociedade, sob a égide do sistema
mundial produtor de mercadorias, são fundamentais na análise de qualquer objeto
de estudo. Portanto, conforme o contexto sócio-histórico, o objeto de estudo e
os objetivos da pesquisa, e nos limites de tempo exigido, as categorias de análises próprias da
pesquisa social podem ser o próximo passo a ser explicitado por um pesquisador.
Do ponto de vista
epistemológico, subtende-se, a priori, que a ciência investiga uma realidade
objetiva apoiada numa reflexão filosófica, e provavelmente, utiliza-se de
procedimentos metodológicos rígidos na tentativa de apreensão da realidade
concreta pelo pensamento abstrato. Emir Sader diz, na apresentação do clássico
livro A Ideologia Alemã, que a “busca
do conhecimento e da verdade pelo pensamento humano partiu sempre da dicotomia
entre sujeito e objeto” (MARX; ENGELS, 2007, p. 9). Mas, como superar essa dualidade metafísica? Como perceber o movimento
real entre sujeito e objeto? A superação dessa dicotomia continua sendo uma
questão posta a todos os grandes filósofos.
O viés epistemológico que
discute a relação entre sujeito e objeto, a determinação da matéria como
anterior ao espírito, ou vice-versa, ergue-se como “campo de batalha” por
excelência do pensamento filosófico, por ser o espaço de reflexão sobre o
caráter e a natureza da realidade. Mesmo após a dialética recuperada por Hegel
e depois “invertida” por Marx, a relação epistemológica entre matéria e
espírito continua sendo um problema filosófico cheio de controvérsias e de
quase nenhum consenso.
Palavras-chaves: Pesquisa, objeto e epistemologia.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de
historiador. Prefácio Jacques Le Goff;
apresentação brasileira, Lília Moritz Schwarcz; tradução André Telles. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
DESCARTES, René. Discurso do método: regras para a direção do espírito. Tradução de
Pietro Nassetti. São Paulo: Editora Martin Claret, 2000.
MARX,
Karl; ENGELS, F.. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus
representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus
diferentes profetas (1845-1846). Supervisão editorial Leandro Konder; tradução,
Rubens Enderle, Nélio Schneider, Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo,
2007.
MARX, Karl. O capital - crítica da economia política -
Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São
Paulo: Boitempo, 2013.
MAIA
FILHO, O. N.; Chaves, Hamilton Viana;
Ribeiro, Luis Távora Furtado; Sousa, Natalia Dias de Sousa. O impacto da
aceleração tempo-espaço nas relações de produção. – In: Cadernos de Pesquisa, São Luís, v. 21, n. 2,
mai./ago. 2014. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/2768/1570>. Acesso em:
18/maio/2016.
[1] Texto apresentado na disciplina
de Epistemologia das Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Dr. André Haguette
no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - UECE.
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