Francisco Joatan Freitas Santos Júnior¹
(Texto 10)
Todas as pessoas podem
em potencialidade compreender o conceito. Mas como a gente conhece os objetos
que não podem entrar em contato com a gente? Como uma forma imaterial entra em
contato com a matéria? Segundo Popper (1987, p. 33): “O que há de especial no
conhecimento humano é que ele pode formular-se na linguagem, em proposições”. Então,
o conhecimento parte da percepção sensível que se transforma em linguagem?
Platão despreza o conhecimento
sensível refletido em crenças e opiniões, considerados elementos de uma
realidade inferior, tal a visão dos homens na “Alegoria da Caverna”. Ao mesmo
tempo, entende a episteme, o conhecimento científico como o estágio de
raciocínio e indução que alcança a essência das coisas. Na forma ideal
platônica, o conhecimento precisa contemplar a essência das coisas.
Aristóteles, pelo
contrário, vai valorizar o conhecimento sensível, por isso, não considera que
haja diferença substancial entre conhecimento sensível e intelectual, sendo
mesmo uma continuação. O conhecimento parte da observação e da experiência na
visão aristotélica e pode ser dividido em seis formas: sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição. A intuição
é a forma intelectual predominante, mas isso não significa que as outras formas
de conhecimento sejam falsas, mas sim diferentes, posto que elas se originem de
coisas concretas.
Na modernidade, provavelmente
por influências aristotélicas, o empirismo vai considerar que o único
conhecimento real é o sensível. O sujeito é capaz de entrar em contato com o
mundo exterior através da atividade, percebendo o mundo objeto como cognoscível
a partir da observação, revelando-se em forma de conhecimento. Considerando-se
que a “observação é uma percepção, mas uma percepção que é planejada e
preparada” (Popper, 1975, p. 314).
O mundo passa a existir
quando o ser humano passa a pensá-lo. Esta simples constatação mostra a
importância do conhecimento para o estabelecimento de uma ponte entre o sujeito
e o mundo. Portanto, o conhecimento é o grande intermediário entre o ser e o
mundo, entre o sujeito cognoscente e o mundo cognoscível. O mundo objeto existe
fora do homem, ele é anterior ao homem e existe independente dele. O objeto
existe “em si” e quem pensa é o sujeito que apreende o “para si”. Assim, o
conhecimento sobre o objeto é sempre parcial. De acordo com Popper (1982, p.
55): “Não há fontes últimas do conhecimento. Toda fonte, todas as sugestões são
bem-vindas; e todas as fontes e sugestões estão abertas ao exame crítico”.
Só sabemos da
existência do mundo quando o objeto entra em contato com o sujeito,
conhecimento sensível, apreendido como imagem, o qual pode se citar entre as faculdades
do sensível ou propriedades cognitivas: atenção, juízo, raciocínio, discurso,
memória e imaginação. Destarte, a pesquisa faz um recorte, um universo finito
de um universo infinito, de forma a fragmentar o estudo e conhecer suas partes.
A gente não conhece o calor, conhece o ar quente ou o ar frio, pois calor e
frio são conceitos.
Toda percepção é
singular, efêmera, seletiva e é apropriada pelo sujeito. “Contudo, Einstein
jamais chegou a acreditar que sua teoria fosse verdadeira. Chocou Cornelius
Lanczos, em 1922, ao dizer que sua teoria não era mais que um estágio
passageiro: chamou-lhe ‘efêmera’” (Popper, 1976, p. 112). O sujeito transforma
a percepção em conceito e este conceito é universal, mas não absoluto.
Observando-se o
princípio de causa e efeito na natureza, o homem pode apreender o princípio de
causalidade, pois tudo tem uma causa. Na filosofia do cogito de Descartes
“Penso, logo existo”, ele separa dicotomicamente o corpo da mente, separa
enquanto duas substâncias diferentes. Isso teve influencias nas ciências como
um todo. Mas, ao contrário do cogito cartesiano, suspeita-se que o ser humano é
ao mesmo tempo imanência e transcendência, finito e infinito, “penso isso, logo
existo” (André Haguette). Para além de qualquer dualidade, o conhecimento está
na relação social por meio da cultura.
Palavras-chaves: Conhecimento, ciência e causalidade.
BIBLIOGRAFIA
POPPER, K. R. Conhecimento objetivo. São Paulo:
EDUSP, 1975.
_______. A
racionalidade das revoluções científicas. In: HARRÉ, R. (Org.). Problemas
da revolução científica. São Paulo: EDUSP, 1976.
_______. Conjecturas
e refutações. Brasília: Ed. UNB, 1982.
_______. O
realismo e o objectivo da ciência. Lisboa: D. Quixote, 1987.
[1] Texto apresentado na disciplina de Epistemologia das Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Dr. André Haguette no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - UECE.