Francisco Joatan Freitas Santos Júnior¹
(Texto 08)
A constatação de Febvre
de que a “História era filha de seu tempo” (BLOCH, 2001, p. 7) nos levou à
compreensão de que todo historiador é também filho de seu tempo, por isso, sem
perder a referência ao ensino de História que influencia os historiadores de
“primeira viagem”, nossa intenção é discorrer sobre as possíveis respostas à
pergunta: o que nos faz historiadores?
Adotamos como
metodologia o estudo bibliográfico, pois nos permite dialogar com as pesquisas
historiográficas de Jean Glénisson (1983) e Bloch (2001), dentre outros. Buscamos
compreender as ferramentas teóricas da história que se mostram como requisitos
necessários à formação do historiador e ao seu trabalho, como os conceitos de
História, documentos, fontes históricas, fatos históricos e que se modificaram
ao longo do tempo.
O desafio do que é ser
um historiador nos leva às afirmações de Langlois e Seignobos, ao mesmo tempo
em que nos esforçamos para superá-las, quando consideram que muitos estudantes
seguem a carreira da História, sem consciência da dimensão do que é ser um
historiador:
Assim agem sem
saber por que, jamais havendo inquirido de si mesmos se estão em harmonia com
os trabalhos históricos, dos quais, muitas vezes, ignoram até a própria natureza.
Via de regra, a carreira da história é escolhida através dos mais fúteis
motivos: porque, quando no curso secundário, se obteve êxito na matéria; porque
se experimenta, frente às coisas do passado, aquela espécie de atração
romântica, responsável, segundo se diz, pela vocação de Augustin Thierry; por
vezes, também, porque se tem a ilusão de ser a história uma disciplina
relativamente fácil. (GLÉNISSON, 1983, p, 11)
A História tem a
responsabilidade de registrar o legado da produção cultural da humanidade,
portanto, não pode ser considerada uma ciência de simples entendimento, e não
deve ser por esse argumento indicativo de escolha profissional, pois, na
verdade, esse tipo de pensamento é mais um ledo engano de quem não conhece o
desafio, uma vez que o estudo histórico é bastante rigoroso.
Diante de uma sociedade
que exige provas irrefutáveis de “cientificidade”, e ainda mais, com o
crescimento do pragmatismo, utilitarismo e imediatismo das sociedades de
mercado, assim como Bloch (2001, p. 41), o historiador enfrenta o desafio de
ser constantemente interpelado sobre a utilidade da História: “Para que serve a
História?” E, entre tantas possibilidades, romanticamente ele reconhece: “À
história, mesmo que fosse eternamente indiferente ao homo faber ou politicus,
bastaria ser reconhecido como necessária ao pleno desabrochar do homo sapiens. Entretanto,
mesmo assim limitada, a questão não está, por isso, logo resolvida” (BLOCH,
2001, p. 45).
Nas sociedades modernas
marcadas pela industrialização, expansão da produção e do consumismo, mesmo
compreendendo-se todo o papel transformador do Homo faber e politicus, indicativo
de sua historicidade e por mais que consideremos a História como inerente à
natureza do Homo sapiens, não basta que ela seja necessária à plenitude
conscienciosa do homem para a questão de sua importância estar resolvida.
O reconhecimento dessa
necessidade não torna menos imperioso à História a utilização das mais modernas
técnicas de investigação e a superação de suas limitações conceituais, ao
contrário, torna-se condição singular repensar seus conceitos, principalmente,
na atual perspectiva de busca pelas “verdades científicas” ou pelo aval
científico.
O historiador investiga
os fenômenos ou vestígios das ações humanas no espaço-tempo, principalmente,
quando diante das incertezas acerca da veracidade desses conteúdos, muitas
vezes, sofre pressão de instituições políticas e socioeconômicas que buscam por
motivos ideológicos influir nos resultados. “Está claro que na Política e na
História muitos tabus incidem sobre a origem das instituições que exercem uma
autoridade sobre a sociedade, em conivência ou não com a própria sociedade”
(FERRO, 2003, p. 25).
O ser historiador passa
pela compreensão do conceito de História, por isso, este texto se limita aos
apartes que entendem a História como uma “ciência em construção”, pressupondo a
influência interpretativa do historiador e considerando que a História tem
muito mais desafios e incertezas do que verdades.
Palavras-chaves: História, historiadores e ciências humanas.
BIBLIOGRAFIA
BLOCH, Marc. Apologia
da História ou O ofício de historiador.
Prefácio Jacques Le Goff; tradução André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
CARDOSO, Ciro F. S. Uma introdução à História. São Paulo:
editora brasiliense, 7ª ed., 1988.
FERRO, Marc. Os
tabus da história. Tradução de Maria
Angela Villela. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos Estudos Históricos. São Paulo: DIFEL, 4ª ed., 1983.
[1] Texto apresentado na disciplina de Epistemologia das Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Dr. André Haguette no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - UECE.
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