A direita pode até desejar, mas são os pobres que
necessitam de uma convulsão social para alterar a correlação de forças e se
salvar da morte
A expressão
máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar
quem pode viver e quem deve morrer. Por isso, matar ou deixar viver constituem
os limites da soberania, seus atributos fundamentais. Exercitar a soberania é
exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação
de poder.
[Achille
Mbembe].
A
necropolítica, conforme Achille Mbembe, trata das formas contemporâneas que subjugam
a vida ao poder da morte, avançando de forma cruel no Brasil. Os ricos
empresários e um governo inacreditável, esforçam-se de todas as maneiras para
condenar os pobres, trabalhadores, desempregados, subempregados e populações em
situação de rua à exposição ao coronavírus e à morte.
Em
nome de salvar CNPJs que “rumam para a UTI”, eles defendem o fim do isolamento
social e a contaminação da população pelo vírus letal. A elite faz manifestações
em favor da morte, convocando os trabalhadores para voltarem ao “pelourinho”.
O
governo federal (um aglomerado de incapazes administrativos e seres cruéis) por
sua vez, recusa-se a mudar os rumos de sua política econômica, igualmente
assassina, que retirou direitos trabalhistas, acabou com a perspectiva de
aposentadoria e jogou milhões de brasileiros no desemprego, subemprego e miséria,
provocando aglomeração em filas de bancos por dificultar a entrega de R$ 600.00
de ajuda aos brasileiros.
Para
piorar essa situação, esse governo de perigosos “idiotas” está repleto de
“terraplanistas” e negacionistas da ciência e da realidade, promovendo todo
tipo de ataques e atentados contra o pais, seja cancelando verbas para a pesquisa,
seja tentando manter o ENEM em plena pandemia, seja anistiando incendiários e
desmatadores da Amazônia ou muitas outras formas de tentar destruir qualquer
traço de civilidade que se tenha conquistado a duras penas, numa nação forjada
por séculos de extermínio, escravidão e opressão do povo.
No
Ceará, o governo estadual junto com a prefeitura municipal de Fortaleza,
sinaliza estar na direção oposta ao governo federal, adota o isolamento social,
defende a ciência e a civilidade e até distribui botijões de gás e paga algumas
contas de água de populações de baixa renda. No entanto, não consegue se
dissociar da necropolítica em curso no país e que atinge as camadas mais
desassistidas da população.
Aqui,
como em todo o país, foram os ricos e a classe média quem contaminaram as
populações com suas viagens internacionais e os consumismos globalizados. Mas,
são os pobres e periféricos que estão sucumbindo diante da covid-19, aglomerados
em filas e ou em barracos de microcômodos, sem fontes de renda, sem proteção
governamental e com boletos e contas a pagar, empresas cobrando em ligações
ameaçadoras diárias, estão entre a morte por coronavírus e a fome.
Do
governo estadual, nenhum sinal da possibilidade de adotar uma renda básica para
socorrer a população, embora o governador já disponha de um instrumento
adequado para tal fim, o Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECOP). Quanto ao
seu aliado, o prefeito de Fortaleza resolveu adotar uma ajuda financeira para
os mais necessitados, inacreditáveis R$ 100,00, mais humilhantes do que
eficazes.
Tudo
isso, faz a necropolítica parecer o produto de uma assustadora cumplicidade
entre empresários egoístas e de perfil escravagista, governos insensíveis e
superficiais que juntos vão condenando os não privilegiados à contaminação,
guetização e morte diante da maior ameaça que a humanidade já enfrentou em toda
a sua existência.
O
que resta saber é se as classes mais atingidas pela pandemia, seja no campo
sanitário, econômico ou social, vão se deixar matar pela necropolítica ou vão
reagir e rebelar-se levando o país à convulsão social e ao enfrentamento contra
a elite e os seus governos, pois é isso o que se avizinha. Diante de tanta
insensibilidade e descaso, por um lado, e crueldade deliberada por outro, resta
à população buscar alimento e subsistência por seus próprios meios.
Nos
próximos meses, não será surpresa se começar a acontecer saques e expropriações
de bens, pelos mais pobres diante do desespero e da fome que poderá atingir ainda
mais a população, forçada ao isolamento social e sem proteção alguma dos
governos, e ainda, lançada a trabalhar nas empresas-matadouros dos
necro-empresários que reduzem salários e cobram produtividade em meio à
pandemia.
Diante
de uma elite sádica, descontrolada e sanguinária, e de instituições cúmplices e
ou acovardadas, a reação popular se torna imperiosa para salvar vidas e repor o
mínimo de civilidade necessária à convivência social.
Entretanto,
se vier alguma reação ou rebeldia, certamente, serão mais produtos do
desespero, da fome e da ação própria dos indivíduos atingidos pela necropolítica
do que pela ação consciente dos políticos e intelectuais. Assim, dos movimentos
tradicionais e dos partidos da esquerda eleitoral, não se pode esperar nenhuma
ação desse tipo, nenhum esforço de organização de qualquer reação que extrapole
os limites da solidariedade liberal e da arrecadação de cestas básicas, dos
discursos piedosos e alarmistas do parlamento, ou mesmo da comoção diante das
notas de repúdio lidas no jornal nacional, além das esperanças sufragistas
depositadas nas próximas eleições (que inclusive, nem se sabe se ocorrerão).
Mais
do que nunca, as massas excluídas, trabalhadoras, desempregadas, subempregadas
e o lúmpen pobre, estarão por contra própria. Terão que cuidar de si próprios e
por si mesmos. Dias de Luta virão!
Porf. Joatan Freitas
Movimento Dias de Luta
Nenhum comentário:
Postar um comentário