sábado, 8 de fevereiro de 2020

A metáfora de Guedes



A metáfora de Guedes

Antes de começar esta metáfora peço ao leitor que permita-me fazer a seguinte ressalva a respeito desta figura de linguagem, que, talvez, o faça relembrar Belchior: não se preocupe servidor com isso que eu lhes digo, porque, eu sou apenas mais um parasita neste imenso filo em que se transformou a pátria amada ou seria “Pátria armada” ? Ademais, como reza o ciclo evolutivo de um endoparasita: anopluro que parasita anopluro tem só quatro anos de hospedeiro. Vamos à figura de linguagem.

A capacidade de alguns governantes de compararem os servidores com animais se supera e se renova a cada governo. Não faz muito tempo que os servidores de Fortaleza foram chamados de ratos por um secretário que tinha superpoderes na pasta da educação, curiosamente, o atual ministro da economia, que também tem o título de super, comparou o funcionalismo público a parasita. Será um carma da terminologia super ou será uma infeliz coincidência? De uma forma ou de outra, este texto vai se deter apenas ao comparativo do super ministro, haja vista que a primeira comparação parece ter caído no imenso abismo do esquecimento.
“O cara vira um parasita” e o que é um parasita? De acordo com a biologia geral, um parasita é uma associação de organismos que de um modo geral não mata o hospedeiro. Segundo os estudiosos da parasitologia, existem dois tipos: endoparasita e ectoparasita. Em qual você se enquadra? Independente, da sua preferência, saiba que no primeiro, o parasitismo ocorre fora do corpo do hospedeiro e no segundo, o parasita ataca o ser vivo parasitando-o internamente.
A partir deste superficial conceito, já se percebe um furo na fatídica metáfora de Guedes. Por quê? Pelo simples fato de que se os servidores públicos brasileiros fossem realmente parasitas, eles seriam unidos e pertenceriam há uma única associação, ainda que tivessem liberdade de si organizarem com organismos que defendessem pautas menos abrangentes e mais específicas do setor que atuam, ou deveria dizer parasitam?  Fato que não acontece, prova disso são as inúmeras centrais sindicais espalhadas pelo Brasil a fora, algumas delas, inclusive, com interação direta com o governo, ou seria hospedeiro?
Todavia, a minha esperança começa a ressuscitar, sobretudo, quando Guedes diz que o “hospedeiro está morrendo”, digo isto, porque é sabido que existe um modo de parasitismo conhecido por parasitoidismo, em que o parasita mata quem o hospeda. Diante disto, e, pontuando que o servidor brasileiro virou um parasita que está matando o hospedeiro, que por sua vez, é o próprio governo do Brasil, temos aqui, de acordo com o atual ministro da economia, um exemplo raro de parasitoidismo social. E, neste caso, a expectativa de ser um parasita que elimina o hospedeiro não é abstrata, pelo menos não para o povo, e, se assim for, os dias deste hospedeiro patronal estarão contados.
Por outro lado, e colocando em evidência os aplausos que o ministro recebeu por um auditório lotado de senhores de família tementes a deus, tal metáfora,  no que pese a apatia sob a qual se abateu por sobre a classe que vive do trabalho, por sobre os integrantes dos movimentos paredistas e por sobre os intelectuais desta nação, acredito, que o  que se tem é um triste caso de parasitismo reverso e bastante comum nos governos que se elegem prometendo muito para os que não tem quase nada, mas na prática, terminam por governar fazendo tudo para quem já tem mais do que usufrui e muito menos do que necessita.

(Augusto César Tavares – Um rato metido a parasita./ Nertan Maia-Silva - autor da imagem/ extraídadehttps://www.facebook.com/photo.phpfbid=2976602699019621&set=a.525967800749802&type=3&theater)


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