Desrespeito e irresponsabilidade são as
duas palavras mais adequadas para definir a postura do Governo do Estado e da
Prefeitura de Fortaleza em relação ao Conjunto Ceará. Infelizmente, no tocante
à saúde pública, ao ordenamento urbano e às obras do polo de lazer, esses governos
parecem ter feito um pacto de agressão contra a comunidade. Entretanto, além da
luta comunitária cotidiana, o ano de 2020 vem aí como mais uma oportunidade de
acertar as contas com tanto descaso e irresponsabilidade com o bairro.
Em tempos recentes, num palanque
comemorativo no centro do Conjunto Ceará, o Governador Camilo Santana e o Prefeito
Roberto Cláudio prometeram a reforma e requalificação do polo de lazer do bairro.
E lá se vai mais de um ano com o polo todo quebrado e a obra abandonada, sem
falar que os gestores e “seus representantes” não viabilizaram a obra, e ainda
atrapalham a vida de dezenas de comerciantes, frequentadores do polo e o próprio
desenvolvimento cultural e econômico do bairro. Mas não para por aí. Até agora,
a parceria Prefeitura/Governo do Estado foi incapaz de realocar os
trabalhadores e empreendedores do polo de lazer para acelerar a reforma do
espaço.
Por outro lado, a prefeitura complicou o
processo de reforma do polo ao transferir a feira de carros usados da Parangaba
para dentro de uma área de preservação ambiental (última grande área verde do
Conjunto Ceará), inclusive, sem aviso e sem nenhuma consulta à comunidade. A
própria prefeitura gerou infraestrutura, iluminação e permissão para os vendedores
invadirem e se apoderarem gratuitamente dos terrenos mais valiosos. Essa decisão
permitiu que obras irregulares fossem construídas em cima de fontes de água,
devastando a vegetação nativa e ampliando a invasão para vastas áreas do polo
de lazer.
O sistema de saúde também sofreu
devastadores ataques no bairro quando a prefeitura fechou o Setor de Zoonose do
Posto Maciel de Brito e interrompeu os atendimentos na área pediátrica do
hospital Nossa Senhora da Conceição na 4ª etapa.
O ordenamento urbano do Conjunto Ceará
está um caos, as ocupações dos terrenos públicos, canteiros das avenidas e
demais espaços coletivos por comerciantes e particulares que se aproveitam da
omissão da prefeitura segue a pleno vapor. Até o entorno do Centro Cultural
Patativa do Assaré (área que pertence à COHAB, portanto, sob a guarda e
responsabilidade do governo do Estado) está sendo invadido por pessoas que –
comenta-se no bairro - contam com anuência de políticos ligados à gestão
municipal.
Em ano pré-eleitoral, aparentemente, os
terrenos e espaços públicos da comunidade estão virando “moeda de troca” nas
mãos de políticos e cabos eleitorais. De fato, é uma cena revoltante para uma
comunidade tão importante e com um passado de lutas reconhecido. Enquanto isso,
referências comunitárias e políticos que caçam votos no bairro em todas as
eleições, ou estão juntos com os invasores se aproveitando também, ou estão
calados para não perderem vantagens na prefeitura.
Depois que se espalhou por essa
comunidade o “feitiço” do chamado “vereador de bairro”, alguns políticos locais
só pensam em se alinhar com os poderes públicos na esperança de obter apoio
para se tornar, ou se manter vereador. Desde que se elegeu o primeiro político,
vimos a defesa da comunidade diminuir e os interesses eleitorais substituírem
as demandas históricas e coletivas do Conjunto Ceará. Esses são tempos de
reflexão, de pensarmos o que podemos fazer para retomar a tradição de lutas
coletivas da comunidade.
Governo do Estado e Prefeitura de
Fortaleza terão que prestar contas sobre o abandono da reforma do polo de lazer,
a invasão dos terrenos e áreas verdes por particulares e vendedores de carros
usados da Parangaba, o fechamento da Zoonose do Posto Maciel de Brito e da área
pediátrica do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Mas, não só os governos
estão em débito, também os políticos e cabos eleitorais terão que se explicar
sobre a traição aos interesses coletivos do Conjunto Ceará.
Em 2020, teremos a chance democrática de
cobrar tudo isto e mostrar que nós cidadãos não somos “marionetes ou bobos” para
sermos enganados pelas artimanhas e falsas promessas.
“Só
a luta muda a vida!”
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