"Como
vão as coisas?
Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque
apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Em mim, desse canto daqui – lugar comum –
como no
assum, azul de preto,
o canto é que faz cantar.
Cresce e aparece em minha vida e eu me renovo
no canto – o pio do povo.
Pio. É preciso piar.
Neste
presente instante?
conversado com pessoas, caminhado meu caminho
Papo, som
dentro da noite e não tenho um amigo sequer
E não acredite nisso, não, tudo muda e com toda razão
O que transforma o velho no novo
bendito
fruto do povo será.
E a única forma que pode ser norma
é nenhuma regra ter;
é nunca fazer nada que o mestre mandar.
Sempre desobedecer.
Nunca reverenciar.
Mas eu
não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer
No escritório em que eu trabalho e fico rico
Quanto
mais eu multiplico diminui o meu amor
Nada, nada
Nada,absolutamente nada.
E o aguapé, lá na lagoa
Sobre a água nada
E deixa a borda da canoa
Perfumada
É a chaminé à toa
De uma fábrica, montada
Sob a água, que fabrica
Este ar puro da alvorada.
E a
honra de seres humanos
que
Deus criou
E pôs
um pouquinho
só abaixo de seus anjos?
Não me peça que lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como
convém
Sem querer ferir ninguém
São mil milhões de habitantes deste parque industrial
Negros, mulheres, menores, filhos da crise geral
Iguais pela mesma bomba que vai cair no quintal
Ídolo e Deus dos esgotos a musa urbana me fez.
Meu sucesso é saber disso e bater tudo pra vocês.
bêbados, índios, nordestinos
retirantes, prostitutas, pivetes
Punks, pobres, suicidas, solitários
De onde eles vêm?
Humilhados,
ofendidos
e sem direito ao porvir.
Aqui – Nordeste! – Sul América do sono...
no reino do abandono
não há lugar pra onde ir.
Quem viu, na vida, novidade em estar vivo?
Noite é vida e vida é jogo e jogo é sorte e sorte
é vária; coisa muito complicada: o amigo tem ou não tem.
Tudo poderia ter mudado, sim,
pelo trabalho que fizemos - tu e eu.
Mas o dinheiro é cruel
e um vento forte levou os amigos
para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos,
e nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não.
Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Você fica
perdendo o sono,
pretendendo
ser o dono das palavras,
ser a voz
do que é novo;
e a vida,
sempre nova,
acontecendo
de surpresa,
caindo
como pedra sobre o povo.
Esses
senhores se sentam à mesa
Decidem
por nós… Negociações…
Estúpidos e idiotas da política!
Dólares, tanques e mísseis
Meu coração tropical não agüenta
E o Cruzeiro do Sul, que não nos orienta?
Um novo momento precisa chegar.
Eu sei que é difícil começar tudo de novo,
Mas eu quero tentar.
Onde a fúria de seres humanos
Contra a ira dos deuses?
farsantes: barbárie, devastação.
O rinoceronte é mais decente
do que essa gente demente
do Ocidente tão cristão.
Eles venceram e o sinal está fechado
pra nós que somos jovens...
Os rapazes latinos -americanos?
Os aventureiros, os anarquistas,
os artistas? Os sem destinos,
os renegados, os sonhadores?
Esperávamos os alquimistas,
e La vem chegando os bárbaros,
os arrivistas, os consumistas,
os mercadores minas,
homens não há mais?
Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmo e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais.
Enquanto esses
dementes tomam por amantes
bombas e
usinas eu canto, eu danço, eu fumo,
eu bebo,
eu como, eu gozo com essas meninas
E se você
vier com essa: que sou ingênuo,
artista
louco; digo: eu concordo.
Eu pinto,
eu bordo, eu vivo muito
e ainda
acho pouco.
Por isso
é sempre novo afirmar:
Não faça
a guerra. Faça o amor...
E viva a
vida e seus instintos no poder da flor.
Entre o céu e a terra não há mais nada
que sex, drugs and rock`n`roll?
Cai na
estrada tirana: (A juventude é um dom!)
Garotas,
sonhos, mil transas, Como dar bandeira é bom!
Olhando a
cidade grande Cheia de fúria e de som;
Querendo
ser uma estrela De sexo, laser e neon...
Cidade
grande é uma droga Mas o rock dá o tom
E o fim como pode acontecer?
Quero
desejar, antes do fim, pra mim
e os meus
amigos, muito amor e tudo mais;
que
fiquem sempre jovens
e tenham
as mãos limpas
e
aprendam o delírio com coisas reais.
Não tome
cuidado.
Não tome
cuidado comigo:
o canto
foi aprovado
e Deus é
seu amigo.
Não tome
cuidado.
Não tome
cuidado comigo,
que eu
não sou perigoso: -
Viver é
que é o grande perigo
Quanto suicídio, garotos no esgoto...
São ratos? São homens suaves e a noite?
Seremos vencidos?
Não cante
vitória muito cedo, não.
Nem leve
flores para a cova do inimigo,
que as
lágrimas do jovem são fortes
como um
segredo:
podem
fazer renascer um mal antigo.
E a honra dos seres humanos que Deus
criou pôs um pouquinho só abaixo dos seus anjos?
Esses
senhores não querem nada
não
querem perder tempo
com essa
porcaria que se chama gente.
Poema, o que é um poema?
Eu não
estou interessado em nenhuma teoria,
Nem
nessas coisas do oriente, romances astrais
A minha
alucinação é suportar o dia-a-dia,
E meu
delírio é a experiência com coisas reais
Longe o
profeta do terror
que a
laranja mecânica anuncia
amar,
amar e mudas as coisas me interessa mais."
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