Francisco Joatan Freitas Santos Júnior1
(Texto 06)
O seguinte texto, de forma modesta,
parte de um problema posto pelo Prof. André Haguette na aula de Epistemologia
das Ciências Sociais: Se na Idade Média predominava uma visão mediada pela
providência e, se na Idade Moderna predomina uma visão de progresso, qual a
visão que predominava na Antiguidade? O próprio Haguette lança algumas
possibilidades de resposta.
Na Grécia, tudo tinha uma natureza, um
lugar cosmológico, um télos que aponta para uma finalidade, logo, tudo tinha
uma causa, por isso, buscavam identificar as causas primeiras. Os gregos
diferenciavam a essência dos acidentes, acreditando ser possível encontrar a
essência ou o fundamento das coisas. Em Platão havia uma distinção entre corpo
e espírito, entre ideia e corpo, portanto, a origem estava na ideia (Eidos) que
existia antes do corpo, logo, o corpo era apenas uma ocasião de pensar as
ideias.
A visão de mundo era repetitiva, um
mundo fechado. Aristóteles era mais empírico, cientista e buscava a origem nas
substâncias, diferenciando dos acidentes (cita a ideia do cavalo). Os gregos
entendiam que encontrando a essência das coisas se revelaria a virtude e as
pessoas poderiam buscar se comportar de acordo com suas essências, portanto,
essa busca tinha um valor ético. Aristóteles vai dizer que o destino do homem é
a Polis, posto que o homem é um animal político. A Polis é, portanto,
anterior ao homem, no sentido natural, mas não no sentido cronológico, ao mesmo
tempo, ela é sua finalidade última, seu destino final. O homem é um animal
político, nasceu naturalmente para viver na Polis.
A cristandade compartilha da mesma visão
grega de mundo repetitivo, mas com origem na Providência, um mundo
sólido, fechado, onde o significado de sua existência encontra-se na
meta-narrativa de um paraíso divino, reservado ao homem. O lugar do homem é
compreender sua essência só que espelhada em Deus ou direcionada pela
divindade. No mundo grego ou na cristandade existe um fundamento objetivo, em
que na Grécia predominava a natureza (finalidade=télos) e na idade média
predomina o teocentrismo.
O mundo moderno herda a herança grega de
problematização, mas herda também a concepção judaico-histórica, mediado pela
promessa da vinda do messias. Essa concepção judaica influenciará a filosofia,
destacando-se em Hegel, aonde o espírito vai se realizar enquanto progresso no
Estado Absoluto e, em Marx, aonde a utopia humana se realiza de forma
“progressista no comunismo”.
Nietzsche vai dizer que deus morreu,
isto é, eu tenho que inventar o significado, o centro passa a ser o homem
(antropocentrismo). Kant diz: ousem pensar, não existe norma sem o homem.
Porém, “a contemporaneidade elimina o homem, o homem que fica é o consumidor,
sem religião, sem ética, sem significado ou o significado é o valor enquanto
consumidor, o homem doador de significado desaparece, é descartável, deus foi
descartável” (Haguette), por que o capitalismo passa a ser o sujeito na relação
do homem com a natureza e entre os próprios homens. Baumamn então reconhece:
“Não há nada sólido, a realidade é liquida”.
Rousseau vai dizer que a causa da
desigualdade social é a propriedade privada. A natureza do homem é boa, mas a
sociedade o corrompe. Diminui as diferenças entre homem e animal, pois os
animais também utilizam instrumentos e possuem comunicação. Para muita gente, a
ciência é o único discurso válido para a contemporaneidade, é o único discurso
viável; mas, epistemologicamente, não parece ser viável esse discurso único
sobre a ciência.
A religião surge da magia, por que é uma
tentativa, a partir do carisma de uma pessoa, para constranger os deuses
através da realização de um milagre, mas sem envolver os homens, sem uma
perspectiva ética. Obviamente que em nossa sociedade moderna ainda existe magia
como, por exemplo, a tentativa de descobrir o futuro.
Na Miséria da Filosofia, em sua
crítica ao pensamento burguês do Sr. Proudhon, Marx (2008, p. 125) diz: “Esse
modo de explicar as coisas remonta ao mesmo tempo ao grego e ao hebreu, é a um
só tempo mística e alegórica, [...]”. Marx (2008), ao relegar ao plano da
mística as ideias de Proudhon, parece usar o mesmo critério subjetivo para
desconsiderá-las, tratando-as como não científico. É como se o pensamento
moderno caminhasse do mito alegórico para o mito científico.
Palavras-chaves: Télos, mito e ciência.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
MARX, Karl. Miséria da filosofia. Tradução de Torrieri Guimarães. 2ª ed. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008.
[1] Texto apresentado na disciplina de
Epistemologia das Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Dr. André Haguette no
Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - UECE.
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