RESPOSTA
À REVISTA VEJA - Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do
século XX
Por
Arnaldo Lemos Filho (adaptado)
http://www.blogdacompanhia.com.br/tag/eric-hobsbawm/ |
Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de
historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a
ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos
homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam
que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam
a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de
vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento
capitalista.
Mas Hobsbawm não foi apenas um "acadêmico", no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do "intelectual" como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado.
Empenhou-se
desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático
e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem
sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou
perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador
de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser
medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E
não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos
homens mais importantes do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de "idiota moral" (cf. o texto "A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm", publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo.
A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto "historiador esquerdista", dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a "análise" acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos.
Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.
São
Paulo, 05 de outubro de 2012
Diretoria da Associação Nacional de História – ANPUH-Brasil
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