quarta-feira, 27 de julho de 2016

O QUE NOS FAZ HISTORIADORES?

Francisco Joatan Freitas Santos Júnior¹
 (Texto 08)

A constatação de Febvre de que a “História era filha de seu tempo” (BLOCH, 2001, p. 7) nos levou à compreensão de que todo historiador é também filho de seu tempo, por isso, sem perder a referência ao ensino de História que influencia os historiadores de “primeira viagem”, nossa intenção é discorrer sobre as possíveis respostas à pergunta: o que nos faz historiadores? 
Adotamos como metodologia o estudo bibliográfico, pois nos permite dialogar com as pesquisas historiográficas de Jean Glénisson (1983) e Bloch (2001), dentre outros. Buscamos compreender as ferramentas teóricas da história que se mostram como requisitos necessários à formação do historiador e ao seu trabalho, como os conceitos de História, documentos, fontes históricas, fatos históricos e que se modificaram ao longo do tempo.
O desafio do que é ser um historiador nos leva às afirmações de Langlois e Seignobos, ao mesmo tempo em que nos esforçamos para superá-las, quando consideram que muitos estudantes seguem a carreira da História, sem consciência da dimensão do que é ser um historiador:
Assim agem sem saber por que, jamais havendo inquirido de si mesmos se estão em harmonia com os trabalhos históricos, dos quais, muitas vezes, ignoram até a própria natureza. Via de regra, a carreira da história é escolhida através dos mais fúteis motivos: porque, quando no curso secundário, se obteve êxito na matéria; porque se experimenta, frente às coisas do passado, aquela espécie de atração romântica, responsável, segundo se diz, pela vocação de Augustin Thierry; por vezes, também, porque se tem a ilusão de ser a história uma disciplina relativamente fácil. (GLÉNISSON, 1983, p, 11)

A História tem a responsabilidade de registrar o legado da produção cultural da humanidade, portanto, não pode ser considerada uma ciência de simples entendimento, e não deve ser por esse argumento indicativo de escolha profissional, pois, na verdade, esse tipo de pensamento é mais um ledo engano de quem não conhece o desafio, uma vez que o estudo histórico é bastante rigoroso.
Diante de uma sociedade que exige provas irrefutáveis de “cientificidade”, e ainda mais, com o crescimento do pragmatismo, utilitarismo e imediatismo das sociedades de mercado, assim como Bloch (2001, p. 41), o historiador enfrenta o desafio de ser constantemente interpelado sobre a utilidade da História: “Para que serve a História?” E, entre tantas possibilidades, romanticamente ele reconhece: “À história, mesmo que fosse eternamente indiferente ao homo faber ou politicus, bastaria ser reconhecido como necessária ao pleno desabrochar do homo sapiens. Entretanto, mesmo assim limitada, a questão não está, por isso, logo resolvida” (BLOCH, 2001, p. 45).
Nas sociedades modernas marcadas pela industrialização, expansão da produção e do consumismo, mesmo compreendendo-se todo o papel transformador do Homo faber e politicus, indicativo de sua historicidade e por mais que consideremos a História como inerente à natureza do Homo sapiens, não basta que ela seja necessária à plenitude conscienciosa do homem para a questão de sua importância estar resolvida.
O reconhecimento dessa necessidade não torna menos imperioso à História a utilização das mais modernas técnicas de investigação e a superação de suas limitações conceituais, ao contrário, torna-se condição singular repensar seus conceitos, principalmente, na atual perspectiva de busca pelas “verdades científicas” ou pelo aval científico.
O historiador investiga os fenômenos ou vestígios das ações humanas no espaço-tempo, principalmente, quando diante das incertezas acerca da veracidade desses conteúdos, muitas vezes, sofre pressão de instituições políticas e socioeconômicas que buscam por motivos ideológicos influir nos resultados. “Está claro que na Política e na História muitos tabus incidem sobre a origem das instituições que exercem uma autoridade sobre a sociedade, em conivência ou não com a própria sociedade” (FERRO, 2003, p. 25).
O ser historiador passa pela compreensão do conceito de História, por isso, este texto se limita aos apartes que entendem a História como uma “ciência em construção”, pressupondo a influência interpretativa do historiador e considerando que a História tem muito mais desafios e incertezas do que verdades.
Palavras-chaves: História, historiadores e ciências humanas.
BIBLIOGRAFIA
BLOCH, Marc.  Apologia da História ou O ofício de historiador.  Prefácio Jacques Le Goff; tradução André Telles.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
CARDOSO, Ciro F. S. Uma introdução à História. São Paulo: editora brasiliense, 7ª ed., 1988.
FERRO, Marc.  Os tabus da história.  Tradução de Maria Angela Villela. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos Estudos Históricos.  São Paulo: DIFEL, 4ª ed., 1983.

[1] Texto apresentado na disciplina de Epistemologia das Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Dr. André Haguette no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - UECE.


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