quinta-feira, 11 de junho de 2009

LUMPESINATO

Trecho da conferência proferida pelo professor Ernesto Laclau na abertura do Seminário Internacional "Inclusão Social e as Perspectivas pós-estruturalistas de Análise Social".

Desse modo diz Laclau, com Marx o proletariado industrial passa a ser um elemento dentro da história humana, não mais um marginal como o pobre em geral. No entanto, é por isso mesmo, afirma, que aquele precisou distinguir radicalmente entre proletariado e lumpem proletariado, pois que para ele este era uma massa estritamente diferente daquele, tendo em vista que se formava em todas as grandes cidades, sendo considerada gente sem trabalho definido, vivendo das migalhas da sociedade.

Assim, o lumpem era aquele sem história para Marx que existia nos interstícios do processo histórico. O problema para ele então se complicava neste ponto porque este podia ser marginal, no entanto suas demandas eram referentes e concretas. Além disso, o mesmo ao ser visto como não participante do processo produtivo suscitava ainda a questão de o que fazer com os trabalhadores improdutivos que não podiam ser simplesmente referidos como lumpem como os aristocratas financeiros?

Laclau defende que essa foi uma questão que deixou perplexo não somente Marx, mas também, os economistas clássicos porque eles pensavam no que fazer dentro de uma estrutura social com aqueles que trabalhavam nas mais comuns profissões como eclesiásticos, advogados, médicos, homens de letra, atores, cantores que não trabalhavam com a produção de bens.

O conferencista sustenta que para Marx que queria manter por todos os meios possíveis os trabalhadores como parte do processo produtivo, o problema se resumia ao que fazer com os desempregados. Como tratar de seu status que não era igual ao do lumpem porque o desemprego flutuava entre períodos de se estar ou não empregado.

Prosseguindo, expõe que o mesmo vai resolver essa questão através de sua categoria de exército industrial de reserva que tem como fim manter baixo o nível dos salários dos proletários. Porém, a essa altura Laclau pergunta: mas, o que fazer quando temos milhares de desempregados que transformam a marginalidade em algo permanente não mais flutuante?

Para ele isso é o que passa a ocorrer a partir de 1930 e que faz com que através da categoria de lumpem se repense toda a teoria marxista de classe posto que desde então passou a existir uma tendência que começou a tratar a imensa exterioridade social como vítima que precisava de uma visão histórica emancipatória.

Assim afirma que se encontramos na sociedade distintos graus de pobreza, insegurança, marginalidade precisamos entender isso dentro de uma lógica de homogeneidade e de heterogeneidade que entra num processo de contaminação mútua. Neste aspecto a recomposição das identidades coletivas por meio dessa combinação entre o homogêneo e o heterogêneo passa constitutivamente pelo momento de articulação política.

Por articulação política Laclau entende uma certa heterogeneidade que se restringe por lógicas homogeneizantes que partem da heterogeneidade mesma para assim poder criar novas identidades coletivas. Para ele, os grupos de inclusão referem-se a experiências muito precisas que ocorrem em distintos lugares do mundo mas, cuja linguagem é universal e essa universalidade opera por meio da diversidade.

Para o marxismo clássico, profere, a homogeneidade era o resultado do fim da heterogeneidade por onde as classes médias e o campesinato iam ao final desaparecer, ficando uma massa proletária que iria enfrentar a dominação burguesa, diluindo toda heterogeneidade na homogeneidade. Hoje afirma, temos o contrário, isto é, temos que pensar em um outro tipo de universalidade hegemônica que é uma universalidade que se constrói equivalencialmente através da própria heterogeneidade.

Ao concluir, defende que essa matriz histórica na qual pensa é aquela onde se discute o multiculturalismo, porém um multiculturalismo que não seja escrito em si mesmo como a solução do problema que suscita e que se recuse a relacionar a identidade, com outras identidades, mas, um multiculturalismo que ao contrário, avance no sentido de uma sociedade mais democrática na medida em que coloque as heterogeneidades nestes pontos individuais de ruptura, de identidades culturais que dão lugar a um discurso emancipatório de caráter hegemônico.

PARA REFLEXÃO:

O que é o lumpesinato?

Qual é o papel do lumpesinato?

Podemos considerá-lo enquanto classe social?

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