domingo, 21 de junho de 2009

UMA LÁGRIMA

Há muito por se chorar na estrada da humanidade
Há muito por se fazer no cotidiano da vida
Mas uma lágrima não pode revelar tudo
Só o espinho que produz a lágrima
Pode revelar a natureza do choro.

ANJO PENSATIVO

Um pensamento que em sua forma só pode ser abstrato, mas não puro, destarte avança sobre a realidade como se a dominasse ou simplesmente se iludisse na performance do real.

sábado, 20 de junho de 2009

UMA FLOR

Um espinho no jardim é somente um intruso
Um espinho no deserto Razek é parte do deserto
Uma flor no jardim é apenas uma bela flor no jardim
Uma flor no deserto é mais que uma bela flor no deserto,
É a esperança de um gesto sublime
Para muito além do deserto.

ENIGMA DE UM CAMINHO

Companheiro, caminho não há,
A tradição já não existe cá
Tudo o que era já foi e não mais será.

O que existe é o que está por vir
E o que ainda poderá ser feito
Existe (e sempre) a transição
Entre uma e outra respiração
Um equilíbrio quase perfeito
Noutra época
Entre uma e outra geração.

Existe uma geração imersa
Na sua tradição
E a emergência de uma nova geração
Com sede de mudança
Com um pensamento afoito
Numa transformação.

Existe o passado e o futuro
E o presente, não sendo época,
Nem fixo, é apenas o enigma de uma transição.

SÓ CAMINHO

AMANHECER

Esperar receoso e com medo
Um novo amanhecer...
Virgem ou adúltero, tarde ou cedo
Radiante de paz ou turbulento
É a monotonia do existir
De muitos que vegetam ao relento.
Por quê? Será justo se omitir?
Podemos, pois transformar?
Talvez um motivo possa emergir
Neste espaço para se lutar
E se querer com sina esta nação
Justa, dinâmica e original
Embora a luta seja infernal
E a marcha da transformação
Seja forte... Assim se anseia
E talvez possamos nesta ceia
Encontrar algo mais, além da gente
Quem sabe conquistar este amanhecer...
A nova nação ou um outro ser vivo...
Um outro modo de viver!


AGONIA DE OMAYRA

Omayra Sanchez foi uma menina vítima do vulcão Nevado do Ruiz durante a erupção que arrasou o povoado de Armero, Colômbia em 1985.

Omayra ficou três dias jogada sobre o lodo, água e restos de sua própria casa e presa aos corpos dos próprios pais. Quando os paramédicos de parcos recursos tentaram ajudá-la, comprovaram que era impossível, já que para tirá-la precisavam amputar-lhe as pernas, e a falta de um especialista para tal cirurgia resultaria na morte da menina. Omayra mostrou-se forte até o último momento de sua vida, segundo os paramédicos e jornalistas que a rodeavam.

Durante os três dias, manteve-se pensando somente em voltar ao colégio e a seus exames e a convivência com seus amigos.

O fotógrafo Frank Fournier, fez uma foto de Omayra que deu a volta ao mundo e originou uma controvérsia a respeito da indiferença do Governo Colombiano com respeito às vítimas de catástrofes. A fotografia foi publicada meses após o falecimento da garota.

Muitos vêem nesta imagem de 1985 o começo do que hoje chamamos Globalização, pois sua agonia foi vivenciada em tempo real pelas câmaras de televisão de todo o mundo.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

ESPREITANDO A MORTE


“Espreitando a morte” é uma famosa fotografia com a qual o fotógrafo Sudanês Kevin Carter ganhou o prêmio Pulitzer de foto-jornalismo em 1994. Tomada na região de Ayod, uma pequena aldeia em Suam, a imagem retrata a figura esquelética de uma pequena menina, totalmente desnutrida, recostando-se sobre a terra, esgotada pela fome, e a ponto de morrer, enquanto em um segundo plano, a figura negra expectante de um abutre se encontra espreitando e esperando o momento preciso da morte da garota.

Carter disse que esperou em torno de vinte minutos para que o urubu fosse embora, mas isto não aconteceu. Então rapidamente tirou a foto e fez o urubu fugir dali, açoitando-o. Em seguida, saiu dali o mais rápido possível. O fotógrafo criticou duramente sua postura por apenas fotografar, mas não ajudar, a pequena garota: “Um homem ajustando suas lentes para tirar o melhor enquadramento de sofrimento dela talvez também seja um predador, outro urubu na cena.”, teria dito.

Quatro meses depois, abrumado pela culpa e conduzido por uma forte dependência às drogas, Kevin Carter suicidou-se.

GUERRILHEIRO HERÓICO

A imagem de Che

A famosa foto de Che Guevara, conhecida formalmente como "Guerrilheiro Heróico", onde aparece seu rosto com a boina negra olhando ao longe, foi tirada por Alberto Korda em cinco de março de 1960 quando Guevara tinha 31 anos num enterro de vítimas de uma explosão. Somente foi publicada sete anos depois.
O Instituto de Arte de Maryland - EUA denominou-a "A mais famosa fotografia e maior ícone gráfico do mundo do século XX". É, sem sombra de dúvidas, a imagem mais reproduzida de toda a história. Expressa um símbolo universal de rebeldia, em todas suas interpretações.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

DIÁRIO DE UM CACHORRO


Como professor, estou em greve.
Defendo uma lei que renove a educação.
Só quero que o governo seja legal e aplique a lei.
Aplique a lei do Piso.
Mas o governo não é legal.

Como professor, estou em greve.
Mas a greve é ilegal.
Como pode?
Se defendo a lei como posso está ilegal?
Pensei que fosse um direito.
Pelo menos me dizia a lei.

Como professor, pensei ser um professor
Mas dormi sem olhar no espelho
E sonhei ser o melhor educador
Mas acordei sentido, sentindo dor.
A greve é ilegal e acordei...
Acordei, olhei no espelho e me vi um cachorro.
Um cachorro que ensina...
Um cachorro legal.

domingo, 14 de junho de 2009

MAGIA

Não fosse você a mim importante tanto,
O tempo me teria feito o amor esquecer
E alguém outro, só veria suave encanto
Ao som de poemas, um instante falecer.


Faria se perder todo esse amor em verso,
Que lírico ou épico, num toque de magia,
Deixaria esse viver ao longe e disperso,
Ilusório, tal o ritmo do coração que se ia.


Tamanha a dor do vazio que ali existiria,
Seria o holocausto da poesia parnasiana,
Sombras dum eco do pensar que surgia.


Sereno e louco tal um amor inconstante,
Um breve mistério logo se transformaria
Na libélula suicida de um amor distante.


sábado, 13 de junho de 2009

TRANSIÇÃO


Penso que a morte é o sistema de transporte mais seguro que existe, não falha nunca. E a vida é somente o trilho por onde passa o espírito que irá além do imaginário.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

HISTÓRIA DE MARIGHELLA

Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão.

Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães.

Em 1o de maio de 1936 Marighella foi novamente preso e enfrentou, durante 23 dias, as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller.

Voltaria aos cárceres em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia.

Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista na legalidade. Deposto o ditador Vargas e convocadas eleições gerais, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia.

Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra os comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas, até seu assassinato.

Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca. Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro a queima-roupa no peito.

Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas. E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN – Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho, enfrentar a ditadura.

Na noite de 4 de novembro de 1969 surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

http://www.carlos.marighella.nom.br/vida.htm


LUMPESINATO

Trecho da conferência proferida pelo professor Ernesto Laclau na abertura do Seminário Internacional "Inclusão Social e as Perspectivas pós-estruturalistas de Análise Social".

Desse modo diz Laclau, com Marx o proletariado industrial passa a ser um elemento dentro da história humana, não mais um marginal como o pobre em geral. No entanto, é por isso mesmo, afirma, que aquele precisou distinguir radicalmente entre proletariado e lumpem proletariado, pois que para ele este era uma massa estritamente diferente daquele, tendo em vista que se formava em todas as grandes cidades, sendo considerada gente sem trabalho definido, vivendo das migalhas da sociedade.

Assim, o lumpem era aquele sem história para Marx que existia nos interstícios do processo histórico. O problema para ele então se complicava neste ponto porque este podia ser marginal, no entanto suas demandas eram referentes e concretas. Além disso, o mesmo ao ser visto como não participante do processo produtivo suscitava ainda a questão de o que fazer com os trabalhadores improdutivos que não podiam ser simplesmente referidos como lumpem como os aristocratas financeiros?

Laclau defende que essa foi uma questão que deixou perplexo não somente Marx, mas também, os economistas clássicos porque eles pensavam no que fazer dentro de uma estrutura social com aqueles que trabalhavam nas mais comuns profissões como eclesiásticos, advogados, médicos, homens de letra, atores, cantores que não trabalhavam com a produção de bens.

O conferencista sustenta que para Marx que queria manter por todos os meios possíveis os trabalhadores como parte do processo produtivo, o problema se resumia ao que fazer com os desempregados. Como tratar de seu status que não era igual ao do lumpem porque o desemprego flutuava entre períodos de se estar ou não empregado.

Prosseguindo, expõe que o mesmo vai resolver essa questão através de sua categoria de exército industrial de reserva que tem como fim manter baixo o nível dos salários dos proletários. Porém, a essa altura Laclau pergunta: mas, o que fazer quando temos milhares de desempregados que transformam a marginalidade em algo permanente não mais flutuante?

Para ele isso é o que passa a ocorrer a partir de 1930 e que faz com que através da categoria de lumpem se repense toda a teoria marxista de classe posto que desde então passou a existir uma tendência que começou a tratar a imensa exterioridade social como vítima que precisava de uma visão histórica emancipatória.

Assim afirma que se encontramos na sociedade distintos graus de pobreza, insegurança, marginalidade precisamos entender isso dentro de uma lógica de homogeneidade e de heterogeneidade que entra num processo de contaminação mútua. Neste aspecto a recomposição das identidades coletivas por meio dessa combinação entre o homogêneo e o heterogêneo passa constitutivamente pelo momento de articulação política.

Por articulação política Laclau entende uma certa heterogeneidade que se restringe por lógicas homogeneizantes que partem da heterogeneidade mesma para assim poder criar novas identidades coletivas. Para ele, os grupos de inclusão referem-se a experiências muito precisas que ocorrem em distintos lugares do mundo mas, cuja linguagem é universal e essa universalidade opera por meio da diversidade.

Para o marxismo clássico, profere, a homogeneidade era o resultado do fim da heterogeneidade por onde as classes médias e o campesinato iam ao final desaparecer, ficando uma massa proletária que iria enfrentar a dominação burguesa, diluindo toda heterogeneidade na homogeneidade. Hoje afirma, temos o contrário, isto é, temos que pensar em um outro tipo de universalidade hegemônica que é uma universalidade que se constrói equivalencialmente através da própria heterogeneidade.

Ao concluir, defende que essa matriz histórica na qual pensa é aquela onde se discute o multiculturalismo, porém um multiculturalismo que não seja escrito em si mesmo como a solução do problema que suscita e que se recuse a relacionar a identidade, com outras identidades, mas, um multiculturalismo que ao contrário, avance no sentido de uma sociedade mais democrática na medida em que coloque as heterogeneidades nestes pontos individuais de ruptura, de identidades culturais que dão lugar a um discurso emancipatório de caráter hegemônico.

PARA REFLEXÃO:

O que é o lumpesinato?

Qual é o papel do lumpesinato?

Podemos considerá-lo enquanto classe social?

ALÉM DOS MUNDOS

Pelas lei naturais estivemos sempre um com o outro e para sempre vamos estar... Pelas convenções sociais somos cúmplices da distância... Pelos mistérios da espiritualidade, apenas sentimos e esperamos... Parabéns, muita luz e paz.

domingo, 7 de junho de 2009

POETA

Sofrido, sensível...
Percorre estradas inalienáveis...
Fome, lágrimas e necessidades...
Gente na favela.

Da consciência adormecida
Leve e suave, meiga e bela...
Do medo da batalha...
Desperta-se o poeta... Basta!

Não sejam o silêncio e a omissão
Companheiros da violência...
Exalta relevante a bandeira
E canta o hino dos oprimidos
Explorados e marginalizados.

Decisão fatal... A lei (LSN)
Subversivo, comunista!
Encarcerado... Arma... Alegria...
Vitória do prepotente.

Choro... Esperança...
Foi-se o poeta... Morte...
Ressurreição!


Joatan Freitas

07 / Jul / 1982

MENINO

Menino vadio
Sem pai e sem mãe
Pelos campos e cidades
Ruas e praças
Sem ter o que fazer
Busca sem saber como
O direito de viver.


Menino na lama
De cara com o crime
De corpo franzino
E coração rebelde
Percorre as ruas
Não vendo o momento
De praticar as suas.


Menino na corda
No meio do fogo
No mundo do crime
No inferno maldito
Na marginalização
Sem perspectiva
De uma educação.


Menino que chora
Sofre e se cala
Mas com nada se abala...
Menino traquino
Que perdeu os sonhos
Diante de uma bala
E não houve mais sinos...


Menino chateado...
Perdido e ferido
De alma sofrida
De coração magoado
Triste e sentido
Com rosto carrancudo
E estômago vazio.


Menino futuro...
Exposto nas ruas
Tal uma arte condenada.
Nas viaturas.
Menino construído...
Presente e futuro
Destruído...


Joatan Freitas

18 / 05 / 1984

LIBERDADE

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.


Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.


Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.


E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.


(Carlos Marighela)
São Paulo, Presídio Especial, 1939.